arthur nogueira, entremargens

Adoro os poetas que fazem música. Desde Manuel Bandeira e seus Madrigais prontos pra ganhar os acordes de Villa Lobos até os nossos contemporâneos que fazem da canção um dos melhores suportes para a poesia. Por isso quando ouvi "Mal Secreto" com Arthur Nogueira fiquei determinada a conhecer mais sobre aquela voz. Não sabia nada dele. Ouvi na internet, fiquei curiosa e escrevi pedindo mais música. Arthur foi mais do que eu esperava. Uma surpresa vir de Belém um músico tão ligado ao mais clássico da nossa música popular e ao mesmo tempo tão envolvido com a poesia. Aquela maravilha de Jards Macalé e Waly Salomão era só um prenúncio do que eu ainda ouviria do seu canto. Digo uma maravilha não só pela obra prima icônica dos anos 70, uma música rara, mas também pela leitura feita por Arthur. Leve, arejada e sem perder a força daqueles versos.

Dono de uma voz grave e suave ao mesmo tempo, Arthur é um jovem compositor que sabe escolher seus parceiros muito bem. Entre poetas, letristas e músicos. Esse compacto que traz dois poetas parceiros é uma pequena jóia. Com Dand M. - com quem já fez outras -, ele canta seu próprio oficio em "Preciso Cantar". Dand M. fez a letra depois de um show de Arthur em Belém e a canção foi dedicada com toda propriedade à grande Cida Moreira, fonte de inspiração e referência. Com Antonio Cicero, Arthur canta o verão e o amor. Cicero falava dos anos 70 e esse nosso cantor paraense toma o Rio pra si e traz o tema pra hoje num arranjo delicioso com trompete e contrabaixo acústico. Uma sonoridade clássica e totalmente nova, original e elegante, como pedem os poemas. Nas duas canções, temos a mão preciosa de Guilherme Kastrup - que gravou as vozes em São Paulo -, e o talento de Arthur Kunz, que fez a produção musical em Belém. "Entremargens" é como "Mal Secreto", só uma pontinha do que vem por aí. Espero ansiosa.